Do sofá à nuvem: a jornada do cooperativo
Durante anos, o modo cooperativo era rei nos videogames. Nos anos 90 e início dos anos 2000, dividir tela com um amigo era parte do ritual gamer. Era GoldenEye, Streets of Rage, Halo, Left 4 Dead — o lance era jogar junto.
Mas aí veio o boom dos multiplayers competitivos online. Battle Royale, PvP, eSports… De repente, jogar em equipe virou algo sério, ranqueado, quase esportivo. O cooperativo, mais leve e voltado à diversão compartilhada, foi ficando de lado.
Só que agora, em plena era de live service e individualismo digital, o cooperativo está voltando com tudo — e de cara nova. Mais acessível, mais divertido, e mais relevante do que nunca.
O que está trazendo os jogos cooperativos de volta?
Três fatores principais:
- Excesso de competição: muitos jogadores se cansaram do ambiente tóxico e desgastante dos jogos competitivos. O cooperativo volta como refúgio de diversão sem estresse.
- Experiência compartilhada real: em tempos de distanciamento, jogar com um amigo se tornou uma forma de conexão verdadeira, especialmente com suporte online estável.
- Games que valorizam narrativa a dois ou em grupo: títulos recentes mostram que é possível contar boas histórias com jogabilidade cooperativa inteligente.
E os estúdios perceberam isso. A indústria está respondendo com jogos mais criativos, mais acessíveis e voltados pra curtir junto.
It Takes Two – uma obra-prima da cooperação
Lançado em 2021 pela Hazelight Studios (mesma de A Way Out), It Takes Two foi uma surpresa. Um jogo 100% cooperativo — sem modo solo — que mistura gêneros, puzzles, ação, drama e comédia numa narrativa sobre relacionamentos em crise.
O sucesso foi absurdo:
- Vencedor do Game of the Year no The Game Awards 2021.
- Jogabilidade refinada, com mecânicas únicas por fase — nunca repetitivo.
- Cooperação obrigatória e complementar: cada jogador tem habilidades diferentes.
- Uma história sensível, divertida e que só faz sentido quando jogada a dois.
It Takes Two provou que o cooperativo não só funciona — como pode ser a alma do jogo.

Helldivers 2 – ação frenética, estratégia em grupo e memes
Já Helldivers 2, lançado em 2024, resgatou o cooperativo tático e explosivo em terceira pessoa, com um quê de sátira sci-fi à la Starship Troopers.
O jogo traz:
- Missões caóticas onde trabalhar em equipe é mais que recomendável — é vital.
- Sistema de fogo amigo que obriga coordenação real, não só “jogar junto”.
- Customização, desbloqueios, e sensação constante de progresso em grupo.
- Grande sucesso no PC e PS5, com servidores lotados desde o lançamento.
Helldivers 2 mostra que cooperativo pode ser frenético, desafiador e hilário ao mesmo tempo. A experiência compartilhada é o que mantém o jogo vivo.
O impacto: por que isso importa pra indústria?
O sucesso desses jogos sinaliza uma coisa clara: as pessoas querem jogar juntas — mas não necessariamente competir. O modelo competitivo ainda reina, claro, mas há uma demanda cada vez maior por jogos que:
- Permitam jogar com amigos sem pressão.
- Envolvam cooperação de verdade, não só “jogar ao mesmo tempo”.
- Ofereçam narrativas compartilhadas, onde a presença de cada jogador importa.
Isso impacta diretamente:
- Desenvolvedores, que agora apostam em campanhas co-op, experiências de dois jogadores, e crossplay.
- Empresas, que veem no co-op uma chance de manter jogadores engajados e criando conteúdo (streams, clipes, etc.).
- Jogadores, que redescobrem o prazer de “zerar junto” e não só “vencer o outro”.
O multiplayer casual como ponte social
Outro ponto crucial é o multiplayer casual. Jogos como:
- Overcooked
- Unravel Two
- Moving Out
- Lovers in a Dangerous Spacetime
… mostram que nem tudo precisa ser sobre reflexo, build e meta. Às vezes, é só rir, errar, se atrapalhar — e curtir o caos com outra pessoa.
Esses jogos:
- Têm apelo familiar e para casais, amigos e até pessoas que nunca jogam.
- Reforçam o papel social dos games.
- Criam memórias afetivas, não só “stats” ou vitórias.
O sucesso do cooperativo casual mostra que os jogos estão voltando a ser encontros, não só arenas.
Tendência ou fase passageira?
Pelo cenário atual, isso é tendência com raiz profunda.
As razões?
- O mercado já saturou de jogos PVP com monetização agressiva.
- O público quer experiências com propósito emocional.
- A evolução das conexões online permite jogar com qualidade real com amigos distantes.
- Jogos cooperativos geram conteúdo espontâneo e viral — perfeito pra TikTok, Twitch e YouTube.
E o melhor: não são só estúdios indies apostando nisso. Grandes publishers estão criando jogos com foco narrativo em dupla, ou modos co-op integrados em campanhas single-player (vide Suicide Squad, Diablo IV, etc).
Conclusão: jogar junto nunca foi tão importante
O cooperativo renasceu porque estávamos precisando dele.
Precisando rir, compartilhar, errar juntos, vencer juntos. No meio de uma indústria cada vez mais focada em performance e monetização, o co-op surge como um respiro de humanidade nos games.
E com títulos como It Takes Two e Helldivers 2 pavimentando o caminho, a tendência é que mais estúdios percebam:
a experiência compartilhada é o que faz um jogo se tornar inesquecível.