Em um cenário dominado por nomes internacionais, um artista brasileiro conseguiu se destacar como referência mundial em modelagem 3D, escultura digital e direção de arte em jogos AAA. Seu nome? Rafael Grassetti, ou simplesmente Rafa Grassetti, como é conhecido nas redes e entre os fãs.
Mesmo que você não o conheça de nome, é bem provável que já tenha admirado algum de seus trabalhos — especialmente se você já encarou Kratos em God of War ou se impressionou com a fidelidade visual de personagens de grandes estúdios como Marvel, DC, BioWare e Blur Studio.
Mas como um brasileiro chegou tão longe nesse mercado competitivo? Vamos descobrir.
Do Brasil para o mundo: os primeiros passos
Rafael Grassetti nasceu em São Paulo, e como muitos artistas digitais, começou desenhando e modelando por conta própria. Foi autodidata por boa parte da vida, em uma época em que tutoriais online e acesso à tecnologia de ponta eram escassos no Brasil.

Ainda nos anos 2000, Grassetti começou a publicar suas esculturas digitais em fóruns como CGSociety e ZBrushCentral. Sua habilidade fora do comum com anatomia, luz e textura logo chamou atenção. Ele passou a trabalhar com ilustração e design para publicidade e pequenos projetos internacionais.
A virada veio quando seus projetos pessoais — como modelos realistas de personagens de games e quadrinhos — viralizaram nas redes e chamaram atenção de estúdios internacionais. Em pouco tempo, Grassetti começou a colaborar com grandes nomes do entretenimento global.
A chegada aos grandes estúdios
Seu talento o levou a trabalhar com empresas como:
- BioWare, onde participou da produção de Mass Effect 3 e Dragon Age: Inquisition
- Blur Studio, lendária por suas cinemáticas de jogos como Halo, Batman Arkham e The Elder Scrolls Online
- Marvel e DC Comics, criando personagens promocionais hiper-realistas
Nessa época, ele se tornou conhecido não só por sua arte impecável, mas também por compartilhar seu processo com a comunidade — inspirando milhares de artistas em início de carreira com dicas, vídeos e making ofs.
Mas a consagração ainda estava por vir. E ela veio com um deus da guerra.
Se há um momento que consolidou Rafael Grassetti como um dos maiores nomes da arte digital no mundo dos games, foi sua entrada na Santa Monica Studio, da PlayStation Studios.
A reinvenção visual de God of War
Quando God of War (2018) foi anunciado, o desafio era imenso: reformular uma franquia icônica, agora com narrativa mais madura e ambientação na mitologia nórdica. Kratos deixava para trás a brutalidade pura da Grécia e ganhava uma nova camada de humanidade — como pai, como guerreiro, como sobrevivente.
Grassetti foi Lead Character Artist e posteriormente Art Director. Ele não apenas supervisionou os visuais dos personagens principais, como também redefiniu o rosto e o corpo de Kratos, transformando-o em uma figura mais contida, marcada pelo tempo e pelos erros.
Ele também trabalhou diretamente em:
- Atreus, o filho de Kratos, com uma abordagem mais natural e emocional
- Baldur, que exigia um equilíbrio entre vulnerabilidade e ameaça
- Diversos deuses e criaturas da mitologia nórdica, incluindo Thor e Odin em God of War: Ragnarok
O resultado foi uma explosão de prêmios e reconhecimento. God of War (2018) venceu o Jogo do Ano no The Game Awards, e sua estética visual foi um dos pilares do sucesso.
Reconhecimento da indústria e dos fãs
Após o lançamento, Grassetti se tornou uma figura cultuada não só dentro dos bastidores, mas também entre os fãs. Seu nome passou a ser citado em entrevistas, documentários e painéis ao redor do mundo.
Ele passou a palestrar em eventos como GDC, ZBrush Summit e Lightbox Expo, além de manter um perfil ativo em plataformas como ArtStation, onde publica estudos, artes conceituais e renders com qualidade de cinema.
Mesmo com agenda cheia, nunca deixou de compartilhar seu processo. Lives no YouTube, speed sculpts, colaborações com outros artistas… tudo isso fez com que ele deixasse de ser “apenas” um artista técnico e se tornasse uma referência de comunidade.
Após anos liderando projetos na Santa Monica Studio e marcando seu nome na história com God of War e Ragnarok, Rafael Grassetti decidiu dar um novo passo: seguir caminhos mais autorais e independentes.
Saída da PlayStation Studios e salto para o desconhecido
Em 2023, Grassetti anunciou sua saída da Sony, encerrando uma era de ouro ao lado do diretor Cory Barlog e da equipe que redefiniu a franquia God of War. O motivo? Ele queria explorar novas formas de expressão artística e mergulhar em projetos que combinassem tecnologia de ponta com criatividade sem limites.
Essa nova fase o levou a experimentar territórios como:
- Web3 e NFTs artísticos, onde aplicou seu conhecimento técnico em coleções exclusivas
- Desenvolvimento de projetos cinematográficos e animados independentes
- Criação de um estúdio próprio, com liberdade para explorar novas IPs e conceitos visuais
Mesmo com a polêmica que envolve NFTs, Grassetti sempre deixou claro que sua motivação é explorar o potencial da tecnologia de maneira artística e ética, longe de esquemas de especulação ou lucro fácil.
Um novo estúdio, a mesma excelência
Em 2024, Grassetti anunciou oficialmente a fundação de seu estúdio criativo. O projeto ainda está envolto em mistério, mas o artista já revelou que irá liderar a direção de arte de uma nova franquia de ficção científica, com elementos de jogo e animação — tudo utilizando tecnologia de ponta em modelagem, real-time rendering e IA.
Entre seus objetivos estão:
- Formar uma equipe de artistas de elite
- Trabalhar com motores gráficos como Unreal Engine 5
- Lançar um produto que una jogabilidade, cinema e arte digital de forma inovadora
Essa nova empreitada não é só sobre criar um jogo: é sobre redefinir a forma como arte digital é percebida.
Legado e impacto na arte digital brasileira
Poucos artistas brasileiros chegaram tão longe quanto Rafael Grassetti — e menos ainda o fizeram sem abandonar suas raízes. Ele continua inspirando jovens talentos no Brasil e no mundo, mostrando que é possível, sim, sair do país e ganhar o mundo com talento, dedicação e visão artística.
Seja como artista, diretor ou empreendedor, Grassetti prova que a arte digital tem alma, e que a tecnologia, quando bem usada, pode ser uma ponte entre o humano e o impossível.